Inclusão e Ensino

O ensino de gramática

Maria Luci de Mesquita Prestes (FAPA)
Eduardo Rosa de Almeida (Col. Farroupilha)


Na década de 1980, com o advento dos estudos lingüísticos baseados no texto e no discurso no Brasil, com uma “febre” de construtivismo, muitos professores cogitaram que não se deveria ensinar mais gramática; que, de certo modo, bastaria ler e escrever bastante para aprender a ler e a escrever adequadamente.
Ainda nos nossos dias, mais ou menos nesse rumo, embora frisando que uma simples exposição dos alunos à leitura e à produção de textos não é suficiente para garantir-lhes o domínio da língua padrão, Rocha (2002) diz, no subtítulo de seu livro, propor-se a ensinar a língua padrão sem que se estude a gramática. Contudo, o próprio autor, mais adiante, menciona que pretende “apresentar um método funcional e exeqüível para o aprendizado do Português – principalmente da língua padrão – sem que se recorra ao estudo da gramática explícita.” (ROCHA, 2002, p. 10, grifo nosso). Na realidade, o que se pode perceber é que o que o autor chama de “MÉTODO GNM (Gramática: Nunca Mais)” nada mais é do que não ensinar metalinguagem, pois, analisando exercícios propostos por ele, vemos que trabalha gramática sim, com regras da língua padrão, só que procurando não empregar metalinguagem. Dizemos procurando, pois, conforme podemos constatar por alguns enunciados de exercícios sugeridos pelo autor, exemplificados a seguir, ele se utiliza sim de alguma metalinguagem:

§  Coloque nas lacunas os nomes coletivos que melhor se ajustam às idéias das frases:
§  Corrija as frases abaixo, se necessário, com relação ao emprego do verbo haver:
§  Passe as frases para o plural, de acordo com o modelo:
§  Como saber se o acento da crase é empregado diante de nomes de lugares?
§  Observe o seguinte: [...]
§  Complete as frases com os verbos indicados entre parênteses:
§  Algumas palavras do texto são usadas em sentido figurado. Dê o sentido denotativo e o sentido conotativo de cada uma delas, como no modelo:

RECAPITULANDO:

Como sabemos, o emprego da vírgula e do ponto está relacionado com a questão da pausa. A vírgula é empregada para indicar uma pausa menor e o ponto, para indicar uma pausa maior. Teste a sua capacidade de empregar esses sinais, pontuando devidamente este trecho [...] (p. 255)
(ROCHA, 2002, grifo do autor em itálico, grifo nosso em negrito).

Mas hoje o que podemos perceber mesmo é que a grande maioria dos estudos sobre o ensino de gramática trazem muitas críticas ao modo como se vem ainda empreendendo tal ensino, sem negar que a gramática deve ter sim seu espaço no meio escolar.
Possenti (1997) propõe que se trabalhem na escola, na ordem que segue, a gramática internalizada, a gramática descritiva e a gramática normativa. Argumenta o autor:

O que o aluno produz reflete o que ele sabe (sua gramática internalizada). A comparação sem preconceito das formas é uma tarefa da gramática descritiva. Finalmente, a explicação da aceitação ou rejeição social de tais formas é uma tarefa da gramática normativa. As três podem evidentemente conviver na escola. Em especial, pode-se ensinar o padrão sem estigmatizar e humilhar o usuário de formas populares como “nóis vai”. (POSSENTI, 1997, p. 126, grifo do autor).

Quanto à questão da metalinguagem, assim se manifesta o autor:

Eu sugeriria que se falasse normalmente em concordância, em verbo, em sujeito, em pronome, em plural etc, sem que o domínio da terminologia fosse objeto de cobrança, de forma que, eventualmente, tal terminologia passasse a ser dominada como decorrência de seu uso ativo, e não através de listas de definições. (POSSENTI, 1997, p. 125).
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) de Língua Portuguesa do ensino fundamental, tanto os de primeiro e segundo ciclos como os do terceiro e quarto (BRASIL, 1997, 1998), salientam que, sendo o objetivo principal do trabalho de análise e reflexão sobre a língua o imprimir maior qualidade ao uso da linguagem, as situações didáticas devem centrar-se nas atividades epilingüísticas – que se referem à reflexão sobre a língua em situações de produção e interpretação – como caminho para conscientizar-se e aprimorar o controle sobre a própria produção lingüística. Partindo-se daí é que se devem introduzir progressivamente os elementos para uma análise de caráter metalingüístico – que está voltada para a descrição, através da categorização e sistematização dos elementos lingüísticos.
Ainda considerando o ensino da metalinguagem, os PCN de Língua Portuguesa para terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental (BRASIL, 1998, p. 79) enfatizam alguns procedimentos metodológicos fundamentais para que o planejamento de atividades de análise lingüística propicie aos alunos a aprendizagem de conteúdos, dos quais destacamos o seguinte:

apresentação da metalinguagem, após diversas experiências de manipulação e exploração do aspecto selecionado, o que, além de apresentar a possibilidade de tratamento mais econômico para os fatos da língua, valida socialmente o conhecimento produzido. Para esta passagem, o professor precisa possibilitar ao aluno o acesso a diversos textos que abordem os conteúdos estudados.

Bagno (2000, p.158) também admite haver espaço para que se ensine gramática em sala de aula, fazendo uma ressalva: “que seja um ensino de gramáticas, sempre no plural, junto com a análise da funcionalidade de cada uma e da apreciação crítica dos valores sociais atribuídos a cada uma delas”.
Conforme Travaglia (2003, p. 18), para que o ensino de gramática seja pertinente e possa influenciar na qualidade de vida dos indivíduos, ele precisa desenvolver a competência comunicativa desses usuários da língua, ou seja, sua capacidade de usar os diversos recursos que ela proporciona, de maneira adequada a cada situação comunicativa em que estiverem envolvidos. Esse ensino se deve construir sobre uma gramática considerada como

[...] o próprio estudo e trabalho com a variedade dos recursos lingüísticos colocados à disposição do produtor e receptor de textos para a construção dos sentidos em textos. Portanto, a gramática vista como o estudo das condições lingüísticas da significação.

Quanto ao questionamento se a gramática deve ser ensinada ou não, o autor diz que isso vai depender da concepção de gramática que se considerar.
Concebendo-se a gramática como o próprio mecanismo lingüístico que permite aos usuários utilizarem a língua, de acordo com Travaglia (2003, 79-80), a resposta é afirmativa, mesmo que o professor priorize a formação de usuários competentes da língua, já que não se pode usar uma língua sem usar sua gramática, sem conhecer seu uso. O autor adverte, contudo, que esse conhecimento não é explícito teoricamente, mas implicitamente se estabelece na mente dos falantes.
Se a gramática for concebida como conjunto de regras sociais para usar a língua - sob um ponto de vista normativo, portanto -, Travaglia (2003, p. 80) também se mostra favorável a seu ensino, considerando que isso possibilita ao aluno adquirir conhecimentos e habilidades necessários para que ele possa ter uma ação lingüística de acordo com o que a sociedade convencionou e exige das pessoas. Adverte, contudo, o autor que ensinar gramática normativa não é ensinar só a norma culta, mas ensinar as normas sociais para o uso da língua em suas diferentes variedades.
Se for concebida a gramática como teoria descritivo-explicativa da língua (teoria lingüística, teoria gramatical), observa o autor (TRAVAGLIA, 2003, p. 80) que seu ensino dependerá do objetivo do professor.
Neves (2002, p. 226) ressalta a necessidade de, na escola, promover-se um tratamento funcional gramática, em que se trata da língua em situações de produção, em contextos comunicativos. Lembra a autora que

[...] saber expressar-se numa língua não é simplesmente dominar o modo de estruturação de suas frases, mas é saber combinar essas unidades sintáticas em peças comunicativas eficientes, o que envolve a capacidade de adequar os enunciados às situações, aos objetivos da comunicação e às condições de interlocução. E tudo isso se integra na gramática.

Levando em conta tal perspectiva, de trabalhar a língua em uso, para a autora (NEVES, 2000, p. 52), ensinar a língua é ensinar a gramática. Assim, ela adverte que “[...] a escola não pode criar no aluno a falsa e estéril noção de que falar e ler ou escrever não têm nada que ver com gramática.”
Neves (2000, p. 73) bem sintetiza, com argumentos plausíveis, o que é preciso considerar no tratamento da gramática nas aulas de Português:

§  que estudar gramática é refletir sobre o uso lingüístico, sobre o exercício da linguagem;
§  que o lugar de observação desse uso são os produtos que temos disponíveis – falados e escritos – mas é, também, a própria atividade lingüística de que participamos, isto é, a produção e a recepção, afinal, a interação;
§  que, afinal, a gramática rege a produção de sentido.

2a. Atividade:

 
Criem um exemplo de atividade prática a ser utilizada em sala de aula, onde o trabalho com a gramática é acessível a alunos de vários níveis ou mesmo portadores de necessidades especiais.
ASSUNTO:
ATIVIDADE:

JUSTIFICATIVA: (pequeno parágrafo, embasado na leitura proposta)
DURAÇÃO: (tempo estimado)
ALUNOS: (faixa etária,  série, tipo de necessidades... o que acharem conveniente explicar)
OBJETIVO: (o que aprendizagem espera alcançar)
DESENVOLVIMENTO: (forma de realização, passos)
AVALIAÇÃO: (forma de verificação da aprendizagem)

2 comentários:

  1. ASSUNTO: Sinônimo e antônimo.
    ATIVIDADE: Aplicar sinônimo e antônimo contextualizados.

    JUSTIFICATIVA: Sabendo da importância de trabalhar a gramática contextualizada, será aplicado nesta aula, um texto com a finalidade de que os alunos identifiquem sinônimos e antônimos dentro do mesmo.
    DURAÇÃO: Duas aulas de 50 minutos.
    ALUNOS: 6º ano do ensino fundamental, faixa etária de 11 a 12 anos.
    OBJETIVO: Conceituar sinônimo e antônimo identificando-os no texto.
    DESENVOLVIMENTO: O professor explicará sinônimo e antônimo através do quadro branco, ou através de slides, depois pedirá aos alunos que citem palavras de significados semelhantes ou diferentes. As palavras citadas por ele ficarão expostas no quadro ou em cartaz. Em seguida, será distribuído a cada aluno uma cópia de texto com algumas palavras grifadas para que eles descubram os sinônimos e antônimos através de uma atividade.

    Texto:
    O dilúvio (lenda kaiapó)
    Certa vez, um caçador de tatu, cavando a terra, descobriu um grosso cipó. Esse cipó era a veia principal da terra e quando foi cortado pelo caçador, jorrou uma quantidade tão grande de água, que o mundo ficou todo inundado.
    Os animais morreram. Os índios treparam nas árvores mais altas que não ficaram submersas.
    As águas demoraram muito a baixar e os sobreviventes ficaram magrinhos e fracos, pois não conseguiam descer das árvores. Não morreram, mas se transformaram em cupins e vespões, que passaram a fazer suas casas nos topos das árvores, revelando a sua origem humana.
    Desse dilúvio, salvaram-se apenas uma velhinha e um casal de criança, porque a velhinha entrou em um enorme pilão, junto com as crianças, que depois lacrou com cera. Não se esqueceu também de colocar várias cabacinhas contendo sementes de alimentos amarrados ao redor do pilão, para fazer roça quando tudo voltasse ao normal.
    Os índios que vieram depois do dilúvio são descendentes do que se salvaram.

    (Antoracy Tortoleto Araújo. Lendas indígenas)



    Atividade:

    1- Reescreva as frases substituindo as palavras grifadas por antônimos.
    a)... jorrou uma quantidade tão grande de água, que o mundo ficou todo inundado.
    b) Os animais morreram. Os índios treparam nas árvores mais altas que não ficaram submersas.
    c) ...ficaram magrinhos e fracos, pois não conseguiam descer das árvores.
    d) ...porque a velhinha entrou em um enorme pilão, junto com as crianças, que depois lacrou com cera.

    2- “... o mundo ficou todo inundado.” A palavra inundado significa:
    a)imundo
    b)alagado
    c)enfeitado
    d)estraçalhado
    e)acorrentado

    3- “Os índios treparam nas árvores mais altas,...” A palavra treparam tem o mesmo significado que:
    a)cortaram
    b)arrancaram
    c)podaram
    d)plantaram
    e)subiram

    4- “...a velha índia entrou em um enorme pilão,..” O antônimo da palavra enorme é:
    a)gigantesco
    b)espantoso
    c)misterioso
    d)minúsculo
    e)admirável

    5-“...que depois lacrou com cera.” O contrário de lacrou é:
    a)fechou
    b)tapou
    c)abriu
    d)trancou
    e)fecundou

    AVALIAÇÃO: Além de avaliar a atividade escrita, será avaliado também a participação de cada um na parte oral, a qual eles disseram os sinônimos e antônimos que foram escritos no quadro.


    Componentes: Cristiano, Francilane, Maria José, Sandro, Vera Lúcia e Viviane

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